terça-feira, 3 de novembro de 2015

Multinacionais produzem alimentos inferiores no Brasil

Proteste mostra que produtos vendidos no país têm mais gordura, açúcar e aditivos que na Europa


ECONOMIA
Teresa Goulart compra lá fora os mesmos produtos feitos no Brasil

O mundo está cada vez mais globalizado. Entretanto, embora as multinacionais estejam presentes em vários países, não espere encontrar exatamente o mesmo produto, ainda que tenha o mesmo fabricante e leve o mesmo nome em diversas partes do mundo. Levantamento feito pela Proteste – Associação de Consumidores mostrou que a qualidade nem sempre é a mesma.

A entidade comparou a tabela nutricional de 12 produtos fabricados no Brasil e na Europa. Aqui, os produtos têm mais gordura, açúcar e aditivos desnecessários e de segurança questionável, segundo a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci.

O cereal matinal Corn Flakes, da Kellogg’s, fabricado no Brasil, por exemplo, é o único que não oferece fibra alimentar em sua composição, conforme o estudo. E a batata Pringles, da mesma empresa, no Brasil é a única entre os países analisados que utiliza matéria-prima transgênica (óleo de algodão).

O energético Burn, da Coca-Cola, tem corantes tartrazina e amarelo crepúsculo, que têm potencial alergênico. E o caldo de galinha Maggi brasileiro, da Nestlé, tem quatro vezes mais gordura que o produto italiano.

Também figura na lista o Danoninho, da Danone, que não informa a quantidade de polpa de fruta, como acontece nos países europeus, além do cream cheese Philadelphia, que não informa a quantidade de queijo.

A maionese Hellmann’s, fabricada pela Unilever, é apontada pelo uso de antioxidantes (aditivos usados para prevenir a decomposição de óleos e gordura), o butil hidroxianisol (BHA) e o butil hidroxitolueno (BHT), no país, ambos com segurança questionável. E o chocolate M&M’s brasileiro, da Mars, tem mais corantes que o europeu, com potencial alergênico.

No estudo também consta o Doritos Queijo Nacho, que na versão brasileira tem mais aditivos, incluindo o corante amarelo crepúsculo, com potencial para causar alergias. O produto é fabricado pela PepsiCo.

A coordenadora institucional da Proteste explica que a entidade fez uma análise comparativa a partir das informações dos rótulos de alimentos comuns em cinco países – Bélgica, Brasil, Espanha, Itália e Portugal. Foram considerados na análise o número de ingredientes e de aditivos, gorduras total, trans e saturada, fibra alimentar e sal.

Maria Inês diz ser normal que, com base nos hábitos de consumo de cada localidade, as receitas sejam adaptadas. O problema é o uso de aditivos, excesso de sal e açúcar na fabricação dos alimentos no Brasil, inclusive com segurança discutível. “A legislação brasileira é frágil e precisa avançar e se tornar mais rígida, assim como já acontece na Europa. Ao mesmo tempo, os fabricantes precisam mudar, ter mais consciência”, defende Maria Inês.

A jornalista Teresa Goulart – que morou um ano na Europa e três anos no Canadá – diz que já percebeu a diferença em alguns produtos do dia a dia, tanto que, quando viaja, acaba trazendo alguns deles para o Brasil, como remédios, cremes e xampus.

Respostas. Em nota, a Unilever do Brasil se posicionou sobre o assunto. A empresa informou que os produtos e ingredientes são testados e aprovados, segundo as normas de segurança alimentar.

A fabricante do M&M’s informou, em nota, que os corantes são seguros e aprovados pela Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anvisa) e que, a partir do próximo ano, já não terá mais o corante artificial indigotina.

Outra nota, da PepsiCo, informa que a empresa segue a legislação brasileira vigente, utilizando apenas ingredientes seguros para consumo, aprovados pela Anvisa.

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Marca afirma seguir legislação

A Nestlé, que produz o caldo Maggi, informou em nota à reportagem que seus produtos são fabricados de acordo com a legislação vigente, desde os ingredientes até as normas para rotulagem. “É importante destacar que a empresa atende rigorosamente todas as exigências legais aplicáveis à rotulagem de seus produtos, em especial no que se refere à informação nutricional”, diz.

Também em nota, a Danone ressaltou que, em todos os países em que atua, os seus produtos entregam os mesmos benefícios funcionais e nutricionais aos consumidores. 
Justificativa invoca até a segurança

A reportagem procurou os fabricantes de todos os produtos mencionados no levantamento da Proteste, mas nem todas as empresas retornaram até o fechamento desta edição.

A Kellogg’s – fabricante do cereal Corn Flakes e da batata Pringles – disse em nota que, dependendo do país, é possível encontrar pequenas diferenças relacionadas a características dos ingredientes disponíveis ou necessidades da população. A empresa informou que os produtos da marca Pringles no país são atualmente importados da Europa e não contêm ingrediente transgênico.

A Coca-Cola, também em nota, informou que, no Brasil, o uso dos corantes tartrazina e amarelo crepúsculo no energético Burn é seguro e obedece as regras dos órgãos reguladores do país.

A Mondelez Brasil, fabricante do cream cheese Philadelphia, em nota, informou que a quantidade de queijo não é declarada em rótulo, pois o produto é integralmente classificado como queijo de muita alta umidade. 
A General Mills Brasil, detentora da marca Häagen-Dazs, informou que segue as leis brasileiras. "A formulação do sorvete comercializado no país, importado da França, deve trazer a descrição dos ingredientes separadamente. Ou seja: massa de sorvete 14% de chocolate e 8% de chocolate em pedaços, o que configura a mesma porcentagem de 22% no total, igual a descrita nos produtos europeus, que não precisam desmembrar os itens nos seus rótulos".

Diz ainda seu comunicado: "A General Mills Brasil reforça ser uma empresa sólida na fabricação e comercialização de alimentos, detentora de evidente reconhecimento e destaque nacional e internacional, com atuação de mais de 50 anos no segmento, fabricando, embalando e comercializando seus produtos, desde sempre, em consonância com as diretrizes legais do País."

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